terça-feira, 17 de julho de 2012

SONATA DOS HOMENS BONS


 Este é o tempo da contenda aposentada
Esta é a geração dos clubes a especular através do vidro
Dos bandos a sobrevir nas esquinas, mansos
Mudos míopes sequiosos da colossal voyeuracidade – os outros
Perpetuamente os outros às portas do lixo os outros
A partir garrafas de cobardia aos oportunos muros da aurora
Cúmplices da distinta fausta infértil masturbação do grande olho
Que tudo vê
Esta é a geração do tráfico da desprovida ideia postiça
Dédalos televisivo do consumo hiperactivo e da inércia
Logro dos prostrados no trono do serviço comunitário
A esperança verde dos recibos o pingue-pongue dos partidos
Vidros de garrafas fundeados à narcótica publicidade da falta
À raça pasteurizada em manifestos vãos de liga
À raça dirigida pela obstinada e energeticamente renovável
Praxe veterana tecnológica bala de pingue-pongue
Este é o tempo dos comboios que acabam na caução das moradas
O tempo da demolição dos sótãos primordiais onde
O grito mudo dos pássaros consumiu a asa devota da viagem
Este é o tempo dos apeadeiros funerários da coragem

Velhas beatas aos pés da embriaguez chuvosa dos caminhos
Penhores de fome numa impermeável vigília de eléctricos metros
Maçónicas finanças férricos edifícios claros punhais
Uniformes em putos artilhados de unívocas adulações
Postos em secções a jogar PS a lubrificar altos comandos à chapada
A embolsar o coro dos tribunais

E o escarro da mentira aos pés do oportunismo
E a plebe promiscuidade da droga no denso do escuro
 Manipulação do verbo em ruído de quedas vis
Corrupção do amor projectada aos espelhos da vontade
Esmigalhada até ao arrependimento estilhaços de cansaço
Fragmentação do tudo um querer sem pensar futuro
Arrogância arranha-céus dos cativos da noite
Posers a preto e branco pela Rede a exibir santidades ídolos pruridos
Doenças intelectuais despejos mentais só para vomitar a preto e branco
Ascos de réplicas infecciosas colectividades estéreis a berrar à lua cheia
Vaticínios de transpor as janelas e emudecem para beber mais um copo
Só mais um só mais um para pular tão-só as janelas do amórfico sono
Até à varanda da miséria
Até o sol comutar a lua e lhes crestar a baba do vício do fingir na cara
Cremada de nicotina de versos que ousaram ser clandestinos de crenças
De lúbricas estaladas de engano mera altura de varandas lambuzadas de pombos
E os motores a malhar na acção curva no levantar. Noite nova dosagem ácida
Em câmara lenta

Este é o tempo
Da contenda aposentada
Este é o tempo do verberar os outros até ao logro
O tempo onde a inventar o futuro
Tropeço entorpeço arrefeço
Evoco porque esqueço
Que não foi pelo ódio nem por amor
Os homens bons emudeceram por desprezo.


De 18 a 23 de Março de 2012






















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