quinta-feira, 4 de outubro de 2012

PRIMEIRA CONFISSÃO


Que encruzilhadas escondes na nudez do teu uivo?
Apieda-te dos emancipados mistérios do incesto
E murmura por favor na melosa melancolia dos espelhos
Podes abrir a janela e trazer-me um copo?
Só tive direito a uma dança sobre a tua cama
Perdi-a para a reencarnação ulterior
Sei que imitas os livros que te silenciaram
Somos esquissos da fantasia do mesmo deus
Mas de que serve vasculhar a verdade
Algures nas palavras onde ele a escondeu
Se a morte ainda não foi reinventada
E a imortalidade se apaixonou pelos reposteiros
Onde se encolhe como uma criança e não nos cabe?
Oh gloriosa inutilidade romântica deste asilo do evocar
Esses cemitérios onde pudemos cuspir sem que ninguém descobrisse
Estes mortos recordados nas assombradas pétalas violeta do riso
Oh as tuas mentiras magníficas que fazem as lendas corar!
As tuas certezas secularmente sacrificiais!
Desprezo-as, cantando-as
Como poderás ser um bom poeta se temes a morte?
Desprezo-te e canto-te
Minha oblíqua insonolência transfigurado reflexo da dúvida
Mudez enegrecida de neve condensada no olhar
Odiosa verosimilhança dos contrastes no escuro
Ficção doentia dissimulada no disfarce do corpo altivo
Desprezo-te e amaldiçoo-te, lixo de luxúria
Corrupção perfeita consciente e vil
Danação com presunções a negras asas de anjo
Elegia excomungada do amor
Cauchemar cauchemar

2 comentários:

  1. Oh Constanza... Que poder.. Que delicadeza... E que aperto. Magnífico!

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  2. Muito muito obrigada por tamanho elogio! Muitas saudades*
    E finalmente vejo-te por aqui pela rede dos tristes! Bons voos ;)

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