Adormeci à manhã entreaberta
Com o odor da noite ainda no sangue do nome
Que esqueci de proteger da recordação das rosas
Adormeci
Nesta cama nesta cama de gritos
Onde a menstruação procura o retorno ao corpo vazio
E não encontra o princípio do pecado ao lume da única vela
Como as mulheres que fui se revolucionaram pelos becos!
As sombras as sombras diluem-se no rio aos pés da antemanhã
No escuro das metáforas
À luz das crisálidas devoradas aos amantes antecipados
O rastilho da impotência a beijar a pele dos homens
Como são dóceis quando da fome restam apenas as migalhas!
Os punhos erguidos à intransigência das eclesiásticas razões
Rasto de lobos na insipidez de uma palavra amargurada
Não vêm nada os olhos impedidos pelas mãos de agarrar as
palavras
As palavras que partem do centro do fôlego até ao convexo
De uma vagina canonizada pela liberdade
Emancipada loucura ser!
Adormecermos é a nossa única semelhança
Os loucos andarão pelos sonhos como os mentirosos
Também as virgens serão esquecidas
E a ternura poderá exalar a tinta do nome às rosas
segredadas
Oh adormecer
Com as palavras
cerradas no precipício pesadelar das formas
Com as mãos inacessíveis com o brando murmúrio mórfico sobre
os olhos
E a minha condição não estremeceu ao sentir o seu sopro
O sopro morno de quando a morte é apenas uma reminiscência
E deus é uma criança perdida que sorri por não ter respostas
Oh adormecer interiormente na memória
Adormecer tristemente melancolicamente nas ruas lúgubres
Com a manhã inteira a mendigar metáforas à ternura do
passado
Espreito a morte no restolhar das folhas do sono
Nada mais estremece
A pele primordial e eterna já não estremece
A pele consolidada e silenciosa já não estremece
A pele harmoniosa e terna já não estremece