sábado, 23 de junho de 2012

O Desfiladeiro das Insónias


Além dos cílios embutidos de Abril
Além das pálpebras crispadas do pó visionário
Dentro dos espinhos do teu fleumático dilúvio
Desenho
Uma rosa de neve um lírio de água
As garras abertas dos gritos da Sombra
A galopar as nuvens sobre o naufrágio do dia
Sobre os atlânticos cascos da tua gargalhada
Sobre a casa fechada onde ainda dormito
Na aquática languidez do miolo de uma Nuvem
A encarar o agudo desfiladeiro das insónias
A aguentar os livros a resistir o hálito das palavras
Contra a ventania das Horas a tiritar de claustrofobias
De pavor
O nada a respirar debaixo da cama
A cama na tua gargalhada a tremer
A prontidão do olhar coagido pela esperança de uma voz recordada
A ideia com excertos de escadas invertidos ao escrever
A ideia: olhos d’areia a transitar o vidro duma asa
A ideia: ectoplasmas aos tombos na mágoa
A ideia: a afinar o sobrevoo da existência
Com uma asa interrompida no oculto lago de um livro
Na ausência das águas a transparência
Duma quimera embala-me para dentro do teu peito onde
Adormeço           aos fragmentos
Com a cabeça pesada de sonhos

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