domingo, 23 de setembro de 2012



O estro adia a estação onde tropeçamos outonalmente nos nomes caídos
A comoção dissolve lentamente as verdes paredes do sono
A claridade vencida já não consegue curar os filamentos das folhas
Nem o sentido de tempo nem as ruínas dos dias indigo na abreviação de lábios

No azularem-se as nascentes dos caules dos búzios dos ossos negros gravados
Na água que propõe o desígnio das limalhas dos desertos interiores
De naufrágios cauterizados de conquistas acidentadas de lodos e de nenúfares
Enquanto as chuvas não chegaram para entornar o mar para fora do abismo
As rosas foram dolorosamente arrancadas ao sono logo depois de inventadas

Nas aquáticas detonações da vontade aninhou-se a obsessão pelo amor
Como se essa palavra fosse encontrada pela primeira vez
E o universo atento e inteiro se movesse por ela
Como a uma matriz a que todas as outras palavras quisessem regressar
Como pomos repetidos bagas renovadas alternadas na escassez de um abraço
Para convirem ao poema arvorado com a profundidade marítima emancipada

Há sempre o impedimento das travessias às palavras mais escarpadas
O amor não consente uma redenção o amor não foi ensinado a omitir
Conhece a sua própria dívida como um princípio sanguíneo a que abjurasse
Por isso o forjar da espera é maior do que uma esperança
É a humildade da espera que deixa a porta redentora encostada
É essa palavra que coexiste com os vultos inomináveis dos espelhos
É a partir dela que a assimetria de todas as outras aflui na limpidez
É nas dunas do remoto corpo adormecido que a pele se consagra
À existência salutar do inextinguível desígnio 

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