De onde acorda a força para
Continuar o olhar procuradamente
E os sulcos dos lábios. de novo inaugurados
E a chuva. nocturna. comovida
E o voo dos dias iguais. que persiste
E a perseverança na emancipação
Ainda?
Há botões demasiados na razão
E as bainhas estalam. a chuva
E se as pétalas estancam. se decompõem
Inversas aos espinhos que enrijecem
De onde a persistência abolidora dos relógios
Dos poemas não conclusos?
Aqui em baixo
A cidade é fugitiva. transitória. oculta
Na sobrelotação de uma época evadida
De uma época fratricida
A cidade é. sempre noite
A chuva. abandona-se
Desabitada:
A calçada explode sob
os intrusos
As janelas. ateadas. onde o fumo irrompe
Aos corpos despovoados. em que o olhar persiste
Como se colhesse os gestos para dentro dos bolsos
Como se disfarçasse. compreender,
Os trajectos alucinantes das claustrofobias
Uma carência do sorrir. as transições metalúrgicas
E as narcóticas vigílias dos espaços ilimitados. poluídos.
Depois
Os mimos. com as modestas lágrimas da companhia
Com isolados gestos. o toque. aos objectos inexistentes
Ausentes imaginários. mimiquiméricos
Com os cabelos a perseguir as bagas mórficas da chuva
As cinzas. e alguns cardumes de lume
E beijos remotos nas almofadas de outros quartos
Por baixo
Intimamente
No sono
Há cadernos dispersos no estrondo das avenidas
Nunca hão-de cair. antes do silêncio
Há paisagens prontas. e silenciosas. e gestos
Na luz. e na sombra
E mãos de noite. enluvadas. que se antecipam ao encontro
Veladas
Mímica. à chuva