sexta-feira, 29 de junho de 2012

Que cartas


Mãe, que cartas
Por que rumores escondidos
Por que árvores interrompidas
De homens discretos
Esquecidos
Por que gestos de neve
Por que delírios de mar breve
Te deveria escrever?

Que mutismos brutos
Te retalham os pés
Enquanto transitas as minhas palavras
Que promessas
De relógios ocultos
Eram as badaladas
De quando falavas?

Mãe, que cartas
Presas à corda de estender
Do quintal do meu adiamento?

Que cucos pararam de cantar
Na sala de lume de minhas primaveras idas?

Junto ao fogo das fábulas
A avenida das iluminuras antigas
E tu que alisavas flores
Tu que acomodavas a paixão
Nas prateleiras do teu tédio
E eu que sabia tuas cores
Teu adormecer como remédio
Tuas redivivas angústias de pequena
As refeições que longínqua preparavas
Tua pele falsamente serena
E eu que te sabia
Que te lia
Para te ver no suspenso do sono
Te ver sobrevir no meu mundo
Para que me beijasses os olhos
Para que desaguasses nos meus sonhos
Meu Imbolc de esperanças,
Onde acontecíamos de mãos dadas…

Mãe, que cartas
Quando o teu medo se colou
Às galerias da minha pequenez
Onde num baloiço te esperava?
Mãe, que cartas que letras
Poderiam danificar o teu pesar
Além de ti para fora de mim
Que sonhar para te fazer sonhar
Que morfeu que arlequim
Amarraria nos teus cabelos
Quando tu estás para lá do mundo
Tão remota de tudo
Tão perto do Fim?

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