Este é o tempo da contenda aposentada
Esta é a geração dos clubes a especular através do vidro
Dos bandos a sobrevir nas esquinas, mansos
Mudos míopes sequiosos da colossal voyeuracidade – os outros
Perpetuamente os outros às portas do lixo os outros
A partir garrafas de cobardia aos oportunos muros da aurora
Cúmplices da distinta fausta infértil masturbação do grande
olho
Que tudo vê
Esta é a geração do tráfico da desprovida ideia postiça
Dédalos televisivo do consumo hiperactivo e da inércia
Logro dos prostrados no trono do serviço comunitário
A esperança verde dos recibos o pingue-pongue dos partidos
Vidros de garrafas fundeados à narcótica publicidade da
falta
À raça pasteurizada em manifestos vãos de liga
À raça dirigida pela obstinada e energeticamente renovável
Praxe veterana tecnológica bala de pingue-pongue
Este é o tempo dos comboios que acabam na caução das moradas
O tempo da demolição dos sótãos primordiais onde
O grito mudo dos pássaros consumiu a asa devota da viagem
Este é o tempo dos apeadeiros funerários da coragem
Velhas beatas aos pés da embriaguez chuvosa dos caminhos
Penhores de fome numa impermeável vigília de eléctricos
metros
Maçónicas finanças férricos edifícios claros punhais
Uniformes em putos artilhados de unívocas adulações
Postos em secções a jogar PS a lubrificar altos comandos à
chapada
A embolsar o coro dos tribunais
E o escarro da mentira aos pés do oportunismo
E a plebe promiscuidade da droga no denso do escuro
Manipulação do verbo
em ruído de quedas vis
Corrupção do amor projectada aos espelhos da vontade
Esmigalhada até ao arrependimento estilhaços de cansaço
Fragmentação do tudo um querer sem pensar futuro
Arrogância arranha-céus dos cativos da noite
Posers a preto e branco pela Rede a exibir santidades ídolos
pruridos
Doenças intelectuais despejos mentais só para vomitar a
preto e branco
Ascos de réplicas infecciosas colectividades estéreis a
berrar à lua cheia
Vaticínios de transpor as janelas e emudecem para beber mais
um copo
Só mais um só mais um para pular tão-só as janelas do
amórfico sono
Até à varanda da miséria
Até o sol comutar a lua e lhes crestar a baba do vício do
fingir na cara
Cremada de nicotina de versos que ousaram ser clandestinos
de crenças
De lúbricas estaladas de engano mera altura de varandas
lambuzadas de pombos
E os motores a malhar na acção curva no levantar. Noite nova
dosagem ácida
Em câmara lenta
Este é o tempo
Da contenda aposentada
Este é o tempo do verberar os outros até ao logro
O tempo onde a inventar o futuro
Tropeço entorpeço arrefeço
Evoco porque esqueço
Que não foi pelo ódio nem por amor
Os homens bons emudeceram por desprezo.
De 18 a 23 de Março de
2012